terça-feira, 21 de abril de 2009

ATITUDE CRIMINOSA
Hospital Salgado Filho, no RJ, omite socorro à própria funcionária
Paulo Roberto Accioli

A atitude criminosa, omissa e inusitada tomada por uma médica do Hospital Salgado Filho, no Méier-RJ, identificada como Dra. Jeordeth Pereira Jorge, deixou perplexa, incrédula e ao mesmo tempo surpresa, a auxiliar técnica de enfermagem Cirlene Soares de Oliveira, 50 anos, lotada na sala de emergência buco-maxilo dessa unidade hospitalar.No dia 31/07/07, por volta das oito horas da manhã, ao assumir o seu plantão, Cirlene, funcionária do hospital há 29 anos, sentiu-se mal e recorreu à emergência do hospital relatando para a médica, que segundo Cirlene pertence a uma cooperativa e é nova na unidade, que não estava passando bem, sentindo dores no peito, tonteiras, era hipertensa, já havia feito uma cirurgia cardíaca há 20 anos e era funcionária do hospital.

Para surpresa de Cirlene, a médica, da forma mais fria possível, disse que não poderia atende-la, pois, o diretor do hospital, Dr. Ivo Perrone, havia dado “ordens expressas” para não atender funcionários do próprio hospital, e que essas ordens partiram da Secretaria Municipal de Saúde e que seu plantão já havia sido encerrado. Cirlene tentou ainda argumentar com a médica para apenas medir sua pressão arterial, pois, estava passando mal, não sendo atendida pela profissional.Muito nervosa e temendo pela vida, a técnica em enfermagem recorreu à sua chefe, Dra. Rachel e a parentes, que a levaram para uma clínica no mesmo bairro, tendo que caminhar por mais de dois Km. Como foi constatado na clínica que o estado de Cirlene inspirava cuidados e que só poderiam ser dados em uma emergência de grande porte, ela foi levada ao PAM César Pernetta, no Méier, sendo imediatamente atendida pela Dra. Jane, que considerou a atitude como omissão de socorro e constatou que sua pressão arterial de Cirlene estava 20x11.
Após receber medicação de emergência e ficar em observação por algumas horas, foi transferida para um hospital particular em estado de hipertensão grave. A odisséia de Cirlene só terminou alguns dias depois na Casa de Portugal, onde ficou no CTI por quatro dias, recebendo alta no dia 15/08/07. Se não fosse a pronta intervenção da Dra. Jane eu teria morrido, disse Cirlene muito emocionada.De acordo com Cirlene, em outra ocasião, ela sentiu-se mal no mesmo hospital e recorreu ao chefe do serviço de unidade coronariana, Dr. José Bonifácio, que cinicamente disse que ela não tinha nada, era apenas um “piti” e aplicou uma medicação calmante intravenosa na enfermeira. Mais uma vez, segundo Cirlene, houve erro médico, pois, ela foi para o CTI sendo constatado que era portadora de síndrome coronariana aguda. Isso é um absurdo, tenho documentos que provam o que digo, afirmou Cirlene.

Outra denúncia grave é contra um policial da 23ªDP que não fez o registro de omissão de socorro solicitado por Cirlene contra o hospital da primeira vez que passou mal. Cirlene afirmou, que o policial disse que esse tipo de ocorrência não dá em nada e que o pessoal da DP era muito amigo da Dra. Maria Lúcia, chefe de equipe do Hospital em que ela trabalha. Ele se recusou a fazer o registro, acusou Cirlene. Desta vez, outro policial identificado por Cirlene como inspetor Edson, também não procedeu ao registro de omissão de socorro, alegando que não daria em nada.

Não é a primeira vez que a administração de Ivo Perrone, perpetuado no cargo de diretor do hospital Municipal Salgado Filho, ocupa lugar nas manchetes da imprensa carioca e é alvo de denúncias. A mais grave de todas foi o caso de uma auxiliar de enfermagem que morreu dentro de uma sala do hospital e o Dr. Ivo disse aos jornalistas que ela foi vítima de um ritual satânico praticado por colegas e por um cidadão que circulava livremente pelos corredores. Mais tarde descobriu-se que foi um vazamento de gás que matou a auxiliar de enfermagem.Outras, como doentes graves que são atendidos em cima de pias ou nos corredores da emergência, são comuns e fazem parte do dia a dia do Salgado Filho. O Dr. Ivo Perrone também é acusado por Cirlene e outros funcionários de nunca ser visto no hospital, não receber funcionários para dialogar e, apenas sua secretária, sra. Shirley, é quem fala por ele. Ninguém entra no gabinete dele, disse.

O Hospital Salgado Filho vem sendo acusado também de não atender doentes, inclusive em estado grave, como foi o caso de Joaquim Manoel da Cunha, 54 anos que foi rejeitado no hospital e mandado para o PAM MÉIER, vindo a falecer na porta de entrada desta unidade em 27 de dezembro de 2006, pela manhã. Esta prática, que vem sendo usada com freqüência, sobrecarrega o PAM MÉIER e pode ser caracterizada como omissão de socorro. O coração dele é de pedra, só está lá para ganhar dinheiro dos cofres públicos e, com certeza, é apadrinhado do prefeito ou do Secretário Municipal de Saúde, disse, revoltado, um funcionário do PAM.

A denúncia é séria e tem que ser investigada pessoalmente pelo prefeito César Maia, que também tem o dever de explicar que estranho poder mantém a atual administração na direção de um hospital deste porte. Segundo informações de médicos e auxiliares de enfermagem que não quiseram se identificar, Ivo Perrone não fala com a imprensa, com usuários do hospital, não comparece às reuniões do Conselho Distrital de Saúde da AP 3.2, do qual é obrigado por ser gestor, e poucos o vêem circulando pela unidade. Para disfarçar e tentar justificar sua omissa administração, criou uma “ouvidoria” que pouco resolve, disparou uma auxiliar de enfermagem.

Uma fonte que não se identificou, informou ao Direto ao Debate que existe corporativismo por parte do Conselho Distrital de Saúde da Ap3.2. Este Conselho não investiga situações criminosas como essa e o Conselho Municipal de Saúde também deve intervir, afirmou.

Nota do Editor: a produção do Direto ao Debate, solidária com o drama vivido por Cirlene Souza, encaminhou esta denúncia ao Prefeito César Maia à Secretaria Municipal de Saúde, Conselho Distrital de Saúde da AP 3.2, Cremerj, Sindicato dos Médicos, além das Comissões de Direitos Humanos da Câmara de Vereadores e Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro.Solicitamos a todos que investiguem e apliquem as punições cabíveis e necessárias, para que atitudes insanas e bestiais como a sofrida por Cirlene, não aconteça com futuras vítimas do regime implantado pelo diretor do hospital, alvo destas denúncias. Procurada pela produção do Direto ao Debate, a Secretaria Municipal de Saúde negou o fato. Não faríamos isso nunca, afirmou a Sra. Janine, assessora do secretário.

Nenhum comentário:

Postar um comentário